24/12/10

ÁLCOOL E PÂNCREAS RELAÇÕES MORTAIS

O consumo excessivo de álcool é uma das principais causas da pancreatite, uma inflamação do pâncreas que tanto pode ser ligeira como fatal.
Uma dor intensa na região superior do abdómen, que irradia para as costas, pode ser o primeiro aviso de que algo vai mal com o pâncreas. Dor que, com frequência, agrava após uma refeição abundante, sobretudo à base de gorduras.
Com cerca de 13 centímetros e a forma de uma folha, o pâncreas localiza-se atrás do estômago e muito próximo do duodeno (a porção superior do intestino). Trata-se de uma glândula com um papel importante na digestão dos alimentos e no metabolismo dos nutrientes. Produz sucos digestivos e enzimas que ajudam a partir em pedaços mais pequenos as proteínas, os hidratos de carbono e as gorduras, de modo a que possam passar para o intestino delgado. Além disso, segrega insulina e glucagon, duas hormonas que regulam o modo como o organismo utiliza o açúcar (glucose).
O pâncreas é composto, na sua maior parte, por células exócrinas, que produzem as enzimas digestivas e que estão organizadas em grupos que comunicam entre si por pequenos canais. É por esses canais que os sucos circulam até desembocarem num caminho principal - o canal pancreático, que conduz ao duodeno. Antes, porém, junta-se-lhe o canal biliar, que transporta a bílis desde o fígado e a vesícula.
Existem ainda no pâncreas pequenas ilhas de células endócrinas - os ilhéus de Langerhans - que segregam a insulina e o glucagon, libertando-as na corrente sanguínea, juntamente com uma outra hormona, a somatostatina, que regula a secreção da insulina e glucagon.
O peso do álcool.É assim que tudo funciona num pâncreas saudável. Mas o processo pode ser perturbado por factores como a ingestão abusiva de álcool - com frequência, em grandes uantidades e prolongada no tempo. Não se sabe exactamente como o álcool afecta o pâncreas, mas sabe-se que desencadeia uma libertação precoce das enzimas digestivas e que aumenta a permeabilidade dos pequenos canais, possibilitando fugas de sucos digestivos para o tecido normal. Sabe-se ainda que a ingestão excessiva de álcool conduz à formação de aglomerações de proteínas, as quais estão na origem de cálculos ("pedra") passíveis de bloquear o canal pancreático. O álcool é a principal causa de pancreatite crónica, sendo mais frequente no homem.
Os cálculos biliares são outra causa frequente de pancreatite aguda - a inflamação do pâncreas. Formam-se na vesícula quando a bílis fica quimicamente instável, após o que migram para o canal biliar, podendo bloquear a passagem dos sucos digestivos para o duodeno. A consequência é que estes sucos ficam activos no pâncreas, onde "comem" o tecido saudável, em vez de actuarem no intestino, desempenhando a sua função de decompor os alimentos.
Há outros factores associados à pancreatite, embora considerados factores de importância menor. Aliás, 80 a 90 por cento dos casos têm os cálculos biliares a álcool como causa. É o caso de medicamentos (como os anti-inflamatórios não esteróides, os corticoesteróides e alguns para a hipertensão arterial), de infecções virais (como a papeira e a hepatite) ou bacterianas, do aumento dos níveis de triglicerídeos no sangue ou de cálcio, e ainda de doenças hereditárias como a fibrose quística.
Os homens são mais propensos a desenvolver pancreatite crónica do que as mulheres, pelo facto de beberem mais - em frequência e quantidade. No sexo feminino, a principal causa são os cálculos biliares.
A dor como alarme.É a dor - uma dor moderada a intensa que começa na região superior do abdómen e irradia para as costas e, ocasionalmente, para o peito - que denuncia a pancreatite, sobretudo na sua forma aguda. Surge então subitamente, podendo prolongar-se por horas ou até dias, agravando-se com a ingestão de alimentos e/ou de álcool. Algum alívio, mas apenas temporário, é conseguido quando o doente se inclina para a frente ou se enrola na posição fetal.
Além da dor, a pancreatite aguda manifesta-se através de náuseas e vómitos, febre, pulsação acelerada, abdómen inchado. Nalguns casos, pode haver baixa da pressão arterial e desidratação.
É possível sofrer vários episódios de pancreatite aguda e recuperar completamente. Mas cada um dos episódios constitui uma séria ameaça ao pâncreas, podendo ter consequências sérias.
Aliás, a pancreatite crónica acontece, como já referido, por toxicidade do álcool ao longo do tempo e quando há episódios continuados, com risco de lesão grave do pâncreas e dos tecidos próximos. Os sintomas podem, no entanto, demorar anos a manifestar-se. A dor mantém-se como o principal, podendo ser intermitente ou constante.
A ela se juntam náuseas e vómitos, febre, perda de peso mesmo que os hábitos alimentares não se alterem. As fezes ganham uma aparência gordurosa e odor, devido à deficiente digestão e absorção dos alimentos, sobretudo das gorduras. A diabetes é um risco, uma vez que pode haver lesão das células produtoras de insulina e, assim, uma deficiente gestão do açúcar no sangue.
Controlar a dor, permitir que o pâncreas se recupere e restaurar o equilíbrio normal dos sucos pancreáticos são os objectivos do tratamento da pancreatite aguda, o qual passa, quase sempre, pela hospitalização. E porque o pâncreas entra em acção sempre que se come, o doente tem de ser alimentado por via endovenosa - ou seja, recebe fluidos e nutrientes através de uma veia.
Quando a causa está relacionada com o abuso de álcool, o tratamento envolve necessariamente a abstinência. Já quando a causa é a existência de cálculos biliares, pode ser recomendada cirurgia para remoção dos obstáculos à circulação dos sucos digestivos.
Em relação à pancreatite crónica, o tratamento passa também por controlar a dor e melhorar os problemas de absorção dos nutrientes, a par da cessação dos hábitos alcoólicos.
Até porque, à medida que a doença progride, a continuação da ingestão de álcool aumenta grandemente o risco de complicações e morte. Pode requerer hospitalização.
Complicações à espreita.E são várias as complicações possíveis de uma inflamação do pâncreas.
No caso da pancreatite aguda um dos riscos é o de uma infecção bacteriana, na medida em que o pâncreas fica mais susceptível à acção das bactérias existentes nos intestinos.
Outras possibilidades são a formação de quistos e abcessos. Um risco significativo é o de insuficiência respiratória: é que as alterações químicas no organismo podem afectar a função pulmonar, fazendo com que o oxigénio no sangue desça para níveis perigosos.
Pode haver também insuficiência renal. Potencialmente fatal é o choque, resultante da descida da pressão arterial a um nível tal que os órgãos ficam incapazes de desempenhar as suas tarefas.
A estas complicações juntam-se outras na pancreatite crónica, nomeadamente a possibilidade de formação de pseudo-quisto (acumulação de fluido pancreático em ducto obstruído) que acontece em 25 por cento dos casos.
Desnutrição e perda de peso são problemas reais, na medida em que a falta de enzimas digestivas afecta a absorção dos nutrientes.
No mesmo campo situa-se a diabetes, uma consequência possível das lesões nas células produtoras de insulina. O cancro do pâncreas é mais frequente nos doentes com pancreatite crónica.
O pâncreas é uma glândula vital para o funcionamento do corpo humano, desempenhando funções essenciais para a digestão e o metabolismo. Os danos nele produzidos podem, em última instância, ser fatais, pelo que mais vale prevenir.

Reduzir o riscoNem sempre é possível prevenir a pancreatite, mas é possível reduzir o risco:
• Evitando o consumo excessivo de álcool - o álcool é a principal causa da pancreatite crónica;
• Limitando a ingestão de gorduras - uma dieta rica em gorduras pode aumentar o risco de formação de cálculos;
• Deixando de fumar - o tabaco aumenta o risco, sobretudo se associado ao álcool.
Fonte: FARMÁCIA SAÚDE

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